8 de set. de 2013

Um lugar no passado

No momento que eu entrei foi como se milhões de imagens e memórias e lembranças e sentimentos tivessem me atingindo e me levado para um tempo e um lugar que eu já há tempos havia me esquecido. Senti o cheiro do açude. E ouvi as crianças brincando e correndo. Um dia eu era aquelas crianças correndo sem cansar embaixo do sol quente sem medo de cair ou de arder no dia seguinte. Cumprimentei pessoas que eu não via há algum tempo. Primos, amigos, conhecidos, desconhecidos. Meu primo estava sentado na beira do açude como se fosse uma foto de infância da minha cabeça: pernas de índio, os pés descalço e a vara na mão, calmo. Meu pai se prontificou a sentar ao seu lado. Como sempre o fez. Resolvi tirar meu tênis e por indicação do meu primo por os pés na terra para entrar em contato com a natureza. Naquele momento, me senti criança novamente. Peguei uma vara com meu outro primo e enchi seu saco para que ficasse colocando isca para mim cada vez que ela sumia do anzol quando eu jogava na água. Bons tempos aqueles e os de ontem, que se repetiam. Sentada no chão podia tocar a grama, na Grama, e me lembrar de quando íamos pescar naquela mesma chácara ou correr no campinho.



Faltavam alguns, mas a sensação ainda era deliciosa. Já estava impaciente, e quando estava prestes a desistir (como sempre) senti algo fisgando e puxei a vara. Fiz força e saiu um pequeno peixinho. Ainda bem, assim pude devolvê-lo à água. Sentada esperando pegar alguma coisa, ouvi a mesma coisa de quando tinha uns 15 anos a menos: Caique, você vai ver se reclamar que está ardendo, amanhã. E com certeza ia arder. Sempre foi assim. Me cansei e ainda descalça fiquei andando com um copo na mão, dessa vez não de refrigerante, de um lado para o outro. Conversei com meus pais, tios, amigos, e, principalmente, com meus primos. Quando já escurecia, Grama esfriava e ninguém pegava mais nada. Era hora de limpar os peixes. Os meus primos que um dia esperavam ansiosos sentados juntos comigo para comer, foram quem entraram na cozinham para limpar e preparar. Os adultos agora eram eles, éramos nós. Seus filhos é que andavam de bicicleta e a gente ficava com medo de caírem dentro do açude. E lá pelas tantas, entramos todos os primos na cozinha, e começamos a lembrar de quando éramos crianças do que nós e dos outros que não estavam ali, costumávamos fazer. Tanta coisa havia mudado em nossas vidas, mas ainda éramos as mesmas crianças com os pés imundos nos recusando a ir pra casa tomar banho e ir dormir. Hoje nossas relações se resumem a apenas "curtidas", "compartilhamentos" e "comentários", mas são esses momentos que talvez aconteçam uma vez a cada ano, que tornam a minha vida maravilhosa. Foram com eles que eu tive a melhor infância da minha vida e eu espero que seja com eles que eu tenha o melhor resto da vida. Obrigada a todos, Caique, Henrique, Brenna, Michel, Raquel, Bárbara, Talita e aos que não estavam, mas estavam presentes em minha memória. E também obrigada às suas mulheres, porque são elas que dão incentivo para serem o que são de verdade, por estarem lá com a gente e não impedirem primos, de serem primos.


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