13 de mai. de 2015

Lembranças do seu fantasma

Era tarde da noite quando, subitamente, senti o cheiro dele no meu travesseiro, como se ele estivesse estado ali nos instantes anteriores. Fechei os olhos e sua imagem apareceu nitidamente na minha mente. Nem parecia que fazia meses que não nos víamos. Estava tudo tão fresco na minha mente e no meu coração. De repente me dei conta de que eu tinha me apaixonado.

Sentimento quase que desconhecido para mim. Há tempos não sabia o que era perder uma noite pensando em alguém, querendo saber como esse alguém está, quando nos veríamos novamente e imaginando futuros alternativos para nós dois. Embora seja gostoso me perder nos meus pensamentos e sonhar com alguém especial, não gosto das batidas que meu coração dá quando sinto saudades ou como ele fica apertado de saber que mais tarde pode ser machucado.

Lembrei-me da primeira vez que nos vimos, e a dor de sua ausência veio como facadas no meu estômago. Como era possível eu ter me deixado gostar de alguém que não estava mais presente na minha vida? Mas as lembranças daquele dia me mostravam a razão. Deitados sobre a grama, sentia seus dedos passando pelos meus braços e seus lábios tocando os meus. Não queria que aquele dia acabasse nunca. O tempo estava gostoso para uma tarde no parque, conversar sentados debaixo das árvores e nos conhecer melhor. O abraço dele era o mais aconchegante do mundo, queria mergulhar em seus braços e me afogar em seu peito. Seu sorriso era confortante, não conseguia parar um minuto sequer de olhar para ele, exceto quando me beijava e me deixava sem fôlego.

As memórias daquele dia eram as mais agradáveis para um primeiro encontro, pensar que eu ainda era capaz de amar alguém, que eu não tinha um coração feito de pedra. Com ele, meu coração batia acelerado, um misto de excitação e medo. Eu não entendia como era possível apaixonar-se por alguém tão depressa. Na verdade, parecia que eu o conhecia a minha vida inteira, como se os dias que passamos juntos tivessem sido meses, anos. Foram pelas conversas intermináveis que me apaixonei por ele, ou por como ele me fazia sentir viva. Também foram pelas palavras de carinho que ele me dizia, por como me tratava e fazia eu me sentir única ou pelo fato de ele nunca me julgar pelo que eu sou e pelos meus atos. Ele era bom para mim. Foi por isso que eu me apaixonei por ele.

Respirei fundo deitada na cama, o cheiro dele vívido em meus pensamentos. Abri meus olhos e dei uma olhada geral no meu quarto. Imaginei-o em todos os lugares que ele havia tocado. Como um fantasma, a memória que eu tinha dele aproximou-se de mim, encostou a boca em meus ouvidos e sussurrou “estou com saudade”. Virei-me para ela e, boca com boca, fechando outra vez os olhos, sussurrei “volta”.

Quando os abri novamente, era tarde demais. O fantasma de sua memória já tinha ido embora. Não me restava nem a lembrança, aos poucos tudo ia desaparecendo da minha mente. Estava tudo no passado. Nada voltaria. Não iria mais sentir seu cheiro, não iria mais abraçá-lo, não iria mais ver seu sorriso e nem olhar nos seus olhos como se eles me transportassem para uma outra realidade. Eu não iria mais estar com ele, não iria escutar mais sua voz. Seu corpo não iria mais se apertar contra o meu e eu não iria mais ouvir suas palavras gentis ou os apelidos genéricos pelos quais ele me chamava. Não iria mais escutar sua respiração pelo telefone e minhas mãos não tocariam mais seu rosto. Tudo não passava de momentos que agora pertenciam ao meu passado, apenas meu.