2 de mar. de 2015

Promessas

Deitados no tapete da sala, de barrigas para cima e nossas mãos entrelaçadas como se o mundo fosse acabar naquele momento, desviamos os olhares fixos do teto para olharmos um no fundo da alma do outro e prometer que nunca mais brigaríamos. Aquela seria nossa última briga. Nada iria nos separar a partir daquele momento. Nada nem ninguém poderia nos afastar, independente de sermos amigos, amantes, namorados, melhores amigos ou apaixonados. A partir daquele momento, nos apoiaríamos sempre naquele promessa.

Foi o que repetimos inúmeras vezes em nossas mentes cada vez que algo nos entristecia ou nos fazia perder a cabeça. Mantínhamos nossa promessa por qualquer que fosse o motivo. Enfrentamos momentos de raiva e ciúmes calados, mas nunca nos arrependemos. Nada era o bastante para nos separar, tudo era apenas frivolidade. Todos nós temos de abrir mão de algumas coisas durante qualquer relacionamento. E nós decidimos abrir mão das brigas.

Uma vez eu li uma história em que uma jovem pergunta para uma um casal de idosos, casados há mais de 60 anos, como eles faziam para estarem juntos há tanto tempo; a senhora, então, responde que na época deles, quando algo quebrava, eles eram ensinados a consertar e não a jogar fora. E foi isso que nós dois fizemos durante muito tempo. Cada vez que algo dava errado, não desistíamos. Nós tentávamos entender o porquê . Consertávamos. Seguíamos em frente. Essa foi nossa teoria e prática por alguns longos anos. Anos suficientes para fazer com que o amor que existia dentro de cada um de nós apenas aumentasse, pois, pela primeira vez na história do nosso relacionamento, estávamos sendo realmente honestos e felizes. Entendíamos pelo o que valia a pena sentar e discutir. E também pelo o que não valia uma noite sem sono. Nunca tínhamos sido tão parceiros. Tão amigos. Tão confidentes. Estava tudo perfeito. Exceto pelo fato de que o amor mútuo entre nós não nos tornava amantes.

Para alguns isso poderia não funcionar. Mas para a gente, não poderia ser melhor. Não escondíamos nada um do outro. Éramos sempre sinceros. Mas quando parecia que nossos sentimentos iriam fugir do controle e quebrar nossa promessa, nos concentrávamos e e fazíamos com que qualquer pensamento negativo ou raiva fosse embora. Para a gente, funcionava. Talvez porque éramos um nível de amor elevado, quase sublime. Talvez funcionasse porque essa era uma nova tentativa de tantas outras que não deram certo em outras vidas. Talvez funcionasse para a gente porque era a gente: dois corpos, uma só alma.

Às vezes me pego pensando que se nós conseguimos, muitas pessoas também podem conseguir. O mundo anda sempre tão cheio de raiva, de críticas negativas sobre os outros, de mágoas por vezes até inerentes ao homem, que acabam por se esquecer que devemos ser tolerantes, que devemos respeitar o outro; respeitar seu presente e seu passado; seus sonhos reais e imaginários; respeitar sua liberdade e o limite dessa liberdade; respeitar crenças e valores; respeitar a própria natureza do ser humano. E, também, mergulhado nessa ganância de sempre querer se sair melhor do que o outro e sobrepor suas opiniões e desgostos, se esquecem de que o mundo é feito de amor.

E nós éramos isso. Éramos feitos de amor. E com o amor vinha o respeito, o carinho, a confiança, a igualdade, a vontade de querer fazer bem. Éramos tudo isso. Éramos melhores amigos.


Naquele mesmo dia, deitados no tapete da sala, de barrigas para cima e nossas mãos entrelaçadas como se o mundo fosse acabar naquele momento, após nossa promessa, no beijamos. Como dois velhos amantes. Não era o primeiro, mas seria o último – ou quase isso. Ainda não sabíamos disso, mas estávamos prestes a descobrir que a nossa promessa, apesar de verdadeira, era uma promessa terrena. Entretanto, assim como soubemos quando nascemos, saberíamos no fim de nossas vidas que éramos um só. Uma única alma, divida em dois corpos. Destinadas a, mais uma vez, não ficarem juntas.

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