Sendo
o mundo feito de amor, seria mais lógico imaginar que quando duas pessoas se
amam, elas ficam juntas. Fazem planos futuros. Constroem uma família. E lá no
fim, ao mesmo tempo, fecham os olhos para nunca mais acordarem. Era o ideal. Mas
não para nós. Nosso amor era tanto que sabíamos que não precisávamos disso. Não
precisávamos de convenções sociais para provar nosso amor. Éramos
livres para nos amarmos e vivermos nossas vidas separados. Nossa promessa nos
mantinha unidos, mas não fazia de nós um casal comum. Tampouco um casal.
Nunca
acreditei na ideia de que só se pode amar uma pessoa. Estávamos convictos de
que éramos capazes de sentir desejo e amor por quem quer que fosse que
aparecesse no nosso caminho. Mas uma coisa sempre seria certa: Não importa em
quantos amores você tropeçar na sua jornada, o importante é o amor que te
espera no final dela – aquele amor que te acompanhou por todo o caminho. Aquele
que viu você se afogar no abraço de outro, mas ainda assim esteve ali para você
quando você foi empurrado para fora. Aquele que já viu você passar por inúmeros
desamores. Aquele, que quando tudo deu errado, estava ali para mostrar que era
seu certo.
Era
isso que ele era para mim. O certo. O homem que segurou minha mão tão firme que
eu sabia que o chão poderia sumir de debaixo dos nossos pés que eu não teria
medo de cair. Nesse momento eu soube que eu nunca mais iria confiar tanto em
alguém. Naquele momento eu soube que ele era o único homem capaz de me fazer me
sentir segura e protegida. E por medo dessa segurança, eu fugi.
Corri
para os braços de outro. Fingi uma segurança que eu não tinha. Forjei um amor.
Me forcei a aceitar uma felicidade que não existia. Prometi um amor eterno que
não lhe pertencia. E em todos os beijos via uma imagem que não era a sua. Não
tinha mais a liberdade que eu ansiava. Não tinha mais aquele carinho puro. Mas
existia respeito. E era o respeito que me impedia de voltar atrás no meu grande
erro. Foi por esse respeito que eu mais uma vez perdi o meu amor de tantas
outras vidas.
Porém,
quem inventou essa história de que podemos sim ter mais de um amor em nossas
vidas, estava perdidamente enganado. Quando você ama alguém, você não consegue
amar uma outra pessoa. Não importa o quanto você tente. Nada nunca pode substituir
aquela pessoa pela qual o seu coração dispara quando vê. Aquela pessoa que te
faz sentir melhor só com um abraço. Aquela pessoa que o sorriso te dá ânimo para enfrentar a dureza do dia a dia. Aquela pessoa com a qual você sonha e
acorda desejando que tenha sido real. Nada pode substituir o verdadeiro amor.
Mesmo
noiva de outro, ele continuava sendo meu melhor amigo. Esteve sempre ao meu
lado. Sempre segurando a minha mão. Era nele que eu pensava quando ia dormir e
era nele que eu estava pensando quando acordava ao lado de outro homem a que eu
tinha prometido amar para sempre. Nunca disfarcei. Nunca escondi meu amor por
ele de ninguém. Nem mesmo de meu noivo. Entretanto, eu me forçava a acreditar
que nós não podíamos ficar juntos. Me forçava insistentemente a acreditar que
era meu noivo o homem com quem eu queria passar todos os dias da minha vida,
com que eu queria fazer planos para o futuro, com quem eu queria construir
minha família, com quem, no fim, eu fecharia os olhos para sempre.
Pior
do que ser enganado por alguém, é ser enganado por você mesmo. Você mente para
si mesmo esperando o melhor, mas, ao final, percebe que trouxe para sua vida a
infelicidade e o desespero constante de tornar tudo aquilo verdade. Você se
destrói. Uma destruição consciente. E você é a única pessoa que pode te
resgatar. A mentira dos outros tem perdão. É esquecida. Mas a mentira para si
mesmo impregna na alma.
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