Pela
fresta da janela, Sarah observava nervosa quem passava pela rua. Estava ali já
fazia quase meia hora. Sentada em uma cadeira com as pernas bambas, sua
ansiedade era tamanha que não conseguia fazer nada exceto aguardar ali. Com os
braços apoiados no parapeito da janela fechada, e a cabeça apoiada nos braços,
sentiu-se, aos poucos, tentada a adormecer. Mas a garota sabia que não podia,
precisava ficar atenta a cada passo dado do lado de fora da janela. Contudo, o
aroma que exalava da madeira da janela fez com que, lentamente, Sarah fechasse
os olhos e começasse a sonhar com lindas flores campestres de perfume
amadeirado.
Assustada,
Sarah acordou de repente. Seu coração batia a toda velocidade. Sua respiração
ofegava e ela sentia a cabeça latejar. Ouvira um barulho, sabia disso. Só não
sabia de onde vinha. Então novamente pode-se ouvir o barulho, dessa vez
percebeu que ele ecoava na casa vazia. Mais uma vez o barulho, e a garota
entendeu que era provocado pelo estalar da janela. Caiu, então, na gargalhada.
Ria de si mesma, ria do barulho engraçado que a janela fazia e ria do susto que
a janela tinha provocado nela.
Ajeitou-se
na cadeira e continuou a espiar pelo único vão da janela. Sabia que dali ela
poderia ver muita coisa mas ninguém poderia vê-la. Olhava impaciente a rua, as
pessoas, os carros, os casais, as senhoras com compras, os cachorros e os
gatos, e uma infinidade de coisas que passavam por ali. Reparava em cada
detalhe, em cada movimento, ficando cada vez mais inquieta na cadeira.
Um
vento forte entrou pela fresta e fez com que seus cabelos, recentemente lavados
e penteados, se bagunçassem. Sem sair da cadeira, a garota puxou a parte de
vidro da janela para perto de si e viu seu rosto refletido nela. A pele branca
brilhava com intensidade no reflexo; os olhos pretos como jabuticabas pareciam
atravessar o vidro; os cabelos, agora bagunçados, pretos e cheio de ondas,
aparentavam estar em constante movimento. Ainda contemplando seu reflexo,
passou os dedos pelos cabelos para deixá-los como estavam antes. Estava linda.
Apesar da espera, valia a pena ter se arrumado.
Olhou
novamente pelo vão da parte de madeira da janela, ainda tinha esperanças. Tinha
se passado um pouco mais de uma hora, mas o sorriso permanecia em seu rosto.
Então, apertando os olhos, Sarah notou uma silhueta vindo na rua. Continuava a
olhar pela janela, mas levantou-se com tanta pressa que não percebeu a cadeira
em que estava sentada cair. Seu coração parecia estar querendo sair de seu
peito, suas pernas estavam prestes a deixá-la desabar no chão frio, suas mãos
tremiam de modo que não conseguia sequer segurar-se na janela. A silhueta
aproximava-se cada vez mais. Se sua respiração não estivesse tão profunda,
poderia ouvir os passos da pessoa que caminhava em sua direção. Sua perna
dobrou e com as mãos frouxas agarrou-se no parapeito.
A
silhueta sumira, mas o sorriso em seu rosto mostrava-se cada vez maior, tinha
seus dentes à mostra. Os olhos de Sarah brilhavam, estava demasiadamente
empolgada. Ouvi-se um barulho metálico de fora e então, fazendo Sarah pular, a
porta ao lado da janela se abriu e por ela a garota viu entrar um homem alto e
forte, carregando nas mãos uma mala. O homem ajoelhou-se e abriu os braços, uma
luz e um barulho indicavam de, de algum modo, a janela tinha sido aberta. No
mesmo instante, Sarah, chorando de felicidade, correu ao encontro dos braços do
pai.