Quando Matheus se inclinou para beijá-la,
Karina, com um gentil toque em seu ombro, o afastou.
— Não faça isso… — sua voz soou suave e
tinha os olhos fechados.
— Desculpa, você tem razão. Poderia
estragar nossa amizade. Não sei no que estava pensando. É que o seu cheiro...
Karina o interrompeu. Delicada.
— Não é isso. É que eu te amo.
Matheus recostou de volta na cadeira. Não
piscava.
— Mas você disse que não sentia nada por
mim, que éramos apenas amigos.
— Eu sei. E somos. Eu
não sentia. Não quando estávamos juntos. Mas hoje... —
não conseguiu mais continuar. Não sabia como explicar para ele.
Karina apenas havia notado há alguns dias
que estava apaixonada pelo seu melhor amigo. Se conheceram, se beijaram,
trocaram carinhos e terminaram. Se davam melhor assim, sem a pressão, sem o
envolvimento. Tinha sido um acordo entre eles. Não sentiam nada um pelo outro
além de amizade. Ela estava contente com isso. Até perceber que o amor vem com
o tempo, com o contato, com as coisas pelas quais passam juntos.
— ... hoje eu entendi que o que sinto por
você é mais do que isso.
— Eu não te entendo. Você mentiu para mim?
Quando concordamos que não sentíamos nada de mais? Mentiu para mim aquele dia
só para eu achar que estava tudo bem? — O tom de voz de Matheus começou a aumentar.
Sentia-se enganado. Todo o tempo ele dizendo que não deviam se apegar, e ela
apaixonada. Ela aceitou apenas para que ele não se sentisse um canalha.
— Não! Não é isso! Você acha que eu agiria
assim sabendo que você não gostava de mim e que nunca sentiria algo? Seria ME enganar. Mas não. É que eu me
apaixonei pelo jeito que você tem me tratado. Me apaixonei pela pessoa que você
é.
— Eu sou exatamente como antes. — Dessa vez
não se alterou. Sentiu que sua voz saiu em tom de dúvida.
Karina sorriu ao mesmo tempo que uma
lágrima escorria de seu olho.
— Você sempre foi um amor, sempre me tratou
com carinho e respeito. Sempre foi honesto. Sempre nos divertimos juntos. Você
está sempre ao meu lado, me fazendo sorrir.
— Então... — estava trêmulo. Nervoso. Já havia
passado por aquela situação várias vezes. Não gostava de magoar as pessoas.
Ainda mais ela.
— Então que hoje você faz isso porque quer.
Antes fazia para me conquistar. Fazia por obrigação.
Matheus balançou a cabeça, não queria
aceitar a verdade.
— É, sim. Aquela obrigação que todo mundo
tem por causa da pressão de quando se está com alguém, de ter que ser gentil
com a pessoa para que ela se sinta bem. Não quer dizer que não é de coração.
Mas é diferente.
Agora Matheus olhava para suas mãos
apoiadas na mesa. Estava de lado para ela, não queria encará-la.
— Hoje você me trata bem porque você é
assim. Sem obrigações. E ser legal por obrigação é fácil. Ser uma pessoa boa,
simplesmente por ser, é o que te torna apaixonante. Não me apaixono por ações
convenientes. Me apaixono por ações verdadeiras. E entendo que você me trata
dessa maneira porque somos amigos e amigos são sempre sinceros uns com os
outros.
Karina tocou a mão dele e quando Matheus
levantou o rosto, viu que o dela estava coberto de lágrimas, ainda que
estampasse um largo sorriso.
— É verdade, sou sempre sincero em como te
trato. Sai do meu coração. Te ver bem me deixa feliz. Mas não posso te oferecer
mais que isso e...
Com os dedos, Karina tocou os lábios de
Matheus, pedindo que não continuasse.
— Eu não quero que você me ame de volta.
Sua amizade para mim é o suficiente. Quando me apaixonei, sabia que não era
recíproco. Mas não me peça para te beijar, não me peça para ser sua diversão.
Ele sorriu um sorriso tímido.
— Desculpa.
— Não tem problema. Eu que deveria parar
com essa mania de me apaixonar pelos meus melhores amigos.
— Já aconteceu antes? — Estava aliviado. —
Quantos melhores amigos você já teve? — Sorria.
Karina sorriu de volta para ele, um olhar carinhoso
acompanhando.
— Só você.
Riram. Matheus contemplou a deliciosa
risada de Karina. Deteve-se em seu perfume. Observou-a jogando o cabelo para
trás e sentia-se completo sabendo que a fazia feliz. Enquanto Karina enxugava
as lágrimas, Matheus abriu um sorriso com o coração acelerado. Estava
apaixonado.